O Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) apelou hoje às autoridades angolanas para que garantam a segurança dos repórteres que cobrem protestos e investiguem agressões contra a comunicação social durante a recente greve de taxistas.
“As autoridades angolanas devem garantir a segurança dos jornalistas que cobrem os protestos e investigar os recentes incidentes de agressão”, disse a organização não-governamental com sede em Nova Iorque, em comunicado.
No dia 10 de Janeiro, seis jornalistas dos canais angolanos TV Zimbo e TV Palanca (afectos ao MPLA) sofreram uma tentativa de linchamento quando reportavam incidentes ocorridos em Luanda durante uma paralisação de taxistas em Luanda.
No seu comunicado, a CPJ conta que falou com os jornalistas por telefone e relata que o repórter da TV Zimbo, Telmo Gama, e o operador de câmara Justino Campos, bem como os jornalistas da TV Palanca, Anselmo Nhati e Orlando Luís, e os operadores de câmara António Luamba e Daniel Lutaka estavam a cobrir o protesto quando algumas pessoas se viraram contra eles, chamando-os “vendidos”.
Os jornalistas foram agredidos e tiveram de fugir porque o protesto se tornou violento, relata a CPJ.
A organização falou também com o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas de Angola, Teixeira Cândido, que contou que os jornalistas são cada vez mais alvo da raiva das pessoas porque existe uma percepção de parcialidade a favor do Governo e do partido no poder.
“Como se vê pelo ataque recente às equipas de reportagem da TV Zimbo e da TV Palanca, os jornalistas parecem estar a ser bodes expiatórios para a raiva dos cidadãos contra o Estado”, disse a coordenadora do programa do CPJ para África, Angela Quintal.
De acordo com a mesma responsável, o CPJ está “cada vez mais preocupado”, porque a liberdade de imprensa “está a deteriorar-se Angola à medida que o país se aproxima das eleições” gerais, previstas para este ano.
“A imprensa deve poder fazer o seu trabalho livre de intimidações e do risco de ataque, para que todos os angolanos possam gozar o seu direito de uma diversidade e pluralidade de informação”, disse.
A TV Zimbo e a TV Palanca foram nacionalizadas em 2020 pelo Governo angolano (MPLA), recorda o CPJ.
No seu comunicado, o CPJ conta os relatos dos jornalistas que ia, foram agredidos e temeram pela vida quando se aperceberam de que lhes estavam a atirar combustível pelas costas, acabando por se refugiar numa esquadra de polícia.
Os jornalistas disseram também ao CPJ que não acreditam que os agressores fossem taxistas, mas sim “pessoas politicamente motivadas” que se aproveitaram do protesto para cometer actos violentos.
O presidente da Associação de Táxis de Luanda, Manuel Faustino, concordou com a avaliação dos jornalistas e, em declarações ao CPJ, disse que a associação “condenou veementemente” a violência.
O Governo angolano anunciou na semana passada que já foram detidos 102 suspeitos da prática de actos de arruaça e vandalismo na greve de taxistas de dia 10.
No dia da greve, um grupo de indivíduos não identificados ateou fogo a um autocarro do Ministério da Saúde e a um edifício do MPLA, partido no poder há 46 anos, acção que resultou no ferimento de profissionais da saúde e doentes.
Na verdade, Aumenta a tensão política em Angola com o aproximar das eleições gerais, previstas para Agosto. A Oposição (o alvo preferencial e único do MPLA) voltou a pedir um diálogo com o Presidente da República, João Lourenço, mas o partido que governa, o MPLA, dirigido pelo mesmo João Lourenço, está contra.
João Pinto, deputado MPLA, culpa a UNITA – tal como tinha feito o secretário provincial do MPLA em Luanda, atribuindo-lhe todas as responsabilidades pelo que não agrada ao Governo. Segundo o mais anedótico deputado angolano, são os dirigentes da UNITA – e em particular o líder do partido, Adalberto da Costa Júnior – que têm apelado à desordem, nas redes sociais.
“A oposição deve moderar a linguagem, porque, até agora, o Presidente da República tem apenas garantido o regular funcionamento das instituições”, considera João Pinto, lembrando que “o país vive uma dificuldade, e uma oposição com sentido de Estado não pode estar a apelar à desobediência civil, não pode estar a apelar à ingovernabilidade do país. A ingovernabilidade do país prejudica todos”.
Na semana passada, o MPLA acusou a UNITA de se aproveitar da greve dos taxistas para atear fogo ao seu comité de acção no distrito urbano do Benfica, em Luanda. A UNITA rejeitou as acusações.
Depois dos distúrbios, o partido do “galo negro” apresentou um “voto de protesto” e pediu a responsabilização de todos aqueles que criam “caos” e incitam ao “ódio e à instabilidade”. Ou seja, segundo a tese do MPLA, protestou contra si própria. Não está mal.
João Pinto rejeita que o MPLA se sente à mesma mesa com a oposição. Em entrevista à DW, o deputado insiste que o Presidente João Lourenço não pode dialogar com alguém que “não respeita as instituições”.
“Foi a UNITA que começou a dar uma imagem de que tem mais popularidade e mais aceitação. Começou a ter pronunciamentos provocadores e organizou, em pleno estado de emergência em quase toda a parte do mundo, manifestações violentas”, acusa o deputado do MPLA.
“O Presidente está num processo de reforma muito ousado que tem sido bem sucedido, com a moralização da sociedade e a apreensão de bens que são incongruentes face ao rendimento das pessoas que tenham exercido cargos públicos. A oposição quer pôr isso em causa”, diz o rapaz, questionando: “Como é que um líder da oposição, eleito no meio do mandato de um Presidente, vem pôr em causa um programa de Governo aprovado?” Está tudo dito.
O ALUNO PINTO E O MESTRE LUVUALU
Em Dezembro de 2015 (dois anos antes do “nascimento” de João Lourenço), e como não poderia deixar de ser (o patrão mandava e o sipaio obedecia), o então embaixador itinerante de Angola, Luvualu de Carvalho, voltava a reproduzir o manancial de asneiras que constituem a sua missão em prol do “escolhido de Deus”.
Dessa vez, passada a fase da NATO e a antes da próxima descoberta do apoio do Estado Islâmico aos activistas então detidos, Luvualu de Carvalho classificou como “mentiras grosseiras” as acusações da Amnistia Internacional (AI) criticando o impedimento de familiares, jornalistas e observadores no tribunal onde decorria a farsa rotulada de julgamento dos 17 activistas acusados de, entre muitos outros crimes, prepararem uma rebelião e um atentado contra o patrão do embaixador itinerante, o MPLA.
Luvualu de Carvalho reagia, em declarações à agência Lusa em Luanda, ao comunicado emitido por aquela organização internacional, tendo negado que estivesse a ser vedado o acesso ao espectáculo em causa.
“Este comunicado da Amnistia Internacional é uma mentira redonda, porque as famílias dos indivíduos julgados têm acesso ao tribunal, porque a comunicação social tem acesso ao tribunal, a sociedade civil no geral tem acesso ao tribunal”, afirmou. Luvualu de Carvalho na sua quadrada tese que, recorde-se, tem hoje em João Pinto um emblemático seguidor.
“São uma mentira absoluta”, afirmou Luvualu de Carvalho, sobre as declarações da directora-adjunta da AI para a África Austral, Muleya Mwananyanda.
Ainda bem que não puxaram pela língua ao Luvualu de Carvalho. Se o tivessem feito ele seria obrigado a revelar que, afinal, a empregada da prima do tio do avô da cunhada do sobrinho de um dos detidos é vizinha de Muleya Mwananyanda. E estão a ver os escarcéu que isso ia dar. Se calhar a Amnistia Internacional teria de fechar as portas.
O dirigente do regime, itinerante na ignorância e residente na estupidez (tal como muitos dos deputados do MPLA, já que ter o cérebro no intestino não é uma exclusividade de João Pinto) considerou ainda tratarem-se de “declarações de má-fé” e garantiu que Angola vai sempre “repudiar com veemência todos os comunicados mentirosos, postos a circular e que não correspondam com a verdade”.
Fez Luvualu de Carvalho muito bem. Faz João Pinto muito bem. É preciso que a AI, bem como todo o mundo, saibam que a verdade é um dom que Deus consagrou em exclusivo ao seu único representante na terra, ou seja, o patrão de Luvualu – José Eduardo dos Santos e, agora, ao novo patrão de João Pinto, João Lourenço.
“Porque nós temos tido abertura suficiente que para termos encontros com quer que seja, quer aqui em Angola, quer na diáspora, para esclarecermos o que acharmos necessário”, frisou.
É verdade. Aliás, consta que da agenda de Luvualu de Carvalho figuram vitais deslocações de esclarecimento a países que, reconhecidos, querem aprender com ele as melhores técnicas para que todos pensem que dormir com o José Maria é a mesma coisa do que dormir com a Maria José. Países prioritários eram a Coreia do Norte e a Guine Equatorial. No entanto, Luvualu preferia os melhore hotéis da Europa.
Para a AI, o julgamento, iniciado a 16 de Novembro de 2015, “viola várias normas” reconhecidas pelo direito internacional para assegurar um julgamento imparcial, ao decorrer sem observadores independentes.
“O direito a uma audiência pública é uma salvaguarda fundamental para um julgamento justo e barrar observadores do tribunal sem justificação é uma violação dos direitos humanos”, afirmou Muleya Mwananyanda, no comunicado da AI.
Sobre esta observação, Luvualu de Carvalho afirmou que esta é outra questão que o Governo angolano não encontra explicação possível.
“Porque as nossas leis, as leis vigentes na República de Angola, não falam em nenhum observador para assistir a julgamentos. Sendo o julgamento livre, toda e qualquer pessoa que se sinta livre tem acesso ao julgamento”, disse Luavualu de Carvalho.
Consta que esta firmação do emblemático símbolo da matumbez do regime (só superada por João Pinto) vai, para sempre, figurar em todas as instalações da AI como eficaz remédio para as tristezas. Ninguém resistirá a uma longa e africana gargalhada.
“Tanto que temos visto que o tribunal, na sua boa-fé, criou uma sala especial, onde todos os órgãos de imprensa acompanham o julgamento em directo, porque a sala não tem um tamanho suficiente para que caibam lá centenas de pessoas, então ficam na sala os réus, os seus advogados, os juízes, os magistrados do Ministério Público e os seus familiares e público em geral”, acrescentou o sipaio.
Luvualu de Carvalho reforçou que os jornalistas têm acompanhado em tempo real as sessões do julgamento, sendo prova os relatos feitos na imprensa nacional e internacional.
“Não sabemos de onde ela tirou essas declarações que são absurdas e mentirosas”, sublinhou Luvualu de Carvalho, visivelmente agastado e com os poucos neurónios que tem já a deitar fumo por todos os lados.
Citada no comunicado da AI, Muleya Mwananyanda disse que os activistas – 15 dos quais detidos na altura há mais de cinco meses – foram alvo de “acusações forjadas” e estavam “injustamente detidos”, julgados num tribunal “em que os princípios do Direito e da Justiça não estão a ser seguidos”.
Luvualu de Carvalho decidiu na altura dar instruções ao juiz presidente da farsa, Januário José Domingos, para apresentar um vídeo onde se verá o pessoal da Amnistia Internacional a dar instruções telepáticas aos activistas, nomeadamente quanto ao fabrico de ogivas nucleares.